CERI TOH

Ceri toh quer dizer Seridó na língua indígena. O historiador Câmara Cascudo escreveu que Ceri toh significa sem folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou cobertura vegetal, segundo Coriolano de Medeiros...Também ouvi de meu pai que significa paisagem desnuda e gosto mais dessa expressão.
Segundo os judeus significa "refúgio Dele", originada da palavra hebraica she ´eritó, assemelhando-se muito com a palavra Seridó.
De qualquer forma, esta palavra está impregnada em mim desde tempos imemoriais...

segunda-feira, 11 de julho de 2016

VINGANÇA

Então, foi realmente uma mentira. A mentira mais escabrosa que já inventei na vida. Claro que não me arrependo de nada. Usei a mesma tática dele, disse que estava morrendo de saudades, que se ele viesse eu me jogaria aos seus pés. Planejei tudo tim tim por tim tim. Maldosamente. Ele iria me pagar todas as noites insones e chorosas. Cada pedacinho de sofrimento. Vesti meu melhor vestido, aquele, que deixa meus seios lindos e eu sei que ele adora. É claro que ele veio correndo, prometi e jurei tesão imenso. Disse que não conseguia nem dormir de tanto desejo. Homem adora ouvir isso, que a mulher tá subindo pelas paredes de tesão por ele. E ele veio sim, correndo. Marquei o encontro no café do centro, para ficar mais longe e de difícil acesso para ele que morava bem distante. Cortei meu cabelo, pintei as unhas, perfumei-me e ei-lo que caminha em direção ofegante, suando em bicas. Cruzei as pernas e pensei: Hoje ele me paga! Chegou e deu-me um beijo na testa. Sentou e pediu uma cerveja. Aqui só tem café querido – comecei o martírio. Ele odeia café. Ele apenas sorriu e pediu uma água. Ai que ódio, água tinha em qualquer boteco, até na farmácia. Enquanto ele me perguntava pela família, faculdade, amigos em comum, eu cruzava e descruzava as pernas, de forma que minha calcinha aparecia de relance e ele começou a ficar visivelmente nervoso. O garçom trouxe a água que ele tomou sofregamente. Passei as mãos no cabelo, molhei os lábios com a língua, fiz todas as caras e bocas que podia e sabia. Até que ele me olhou bem nos olhos e disse: vamos sair daqui, ir pra um lugar mais tranquilo? Claro que eu topei. Fazia parte do plano. Eu queria vê-lo implorar por mim. Pedir, chorar, ajoelhar-se aos meus pés. Dizer que me amava, que eu era a mulher da vida dele. Que aquela piranha que ele saiu no fim do mês passado não representava nada. Eu iria pisar com meu salto agulha no orgulho dele. Então fomos pro motel mais próximo. Pedi a suíte mais cara, eu queria que ele sentisse no bolso também. Minha vingança abordava todos os lados. Ele nunca me levava a um restaurante ou barzinho mais chique. Era sempre os mesmos. Nem uma decoraçãozinha mais fashion. Nada. Mas a piranha ele tinha levado pro melhor restaurante da cidade. Ia me pagar com juros e correção monetária. Disse a ele que iria tomar um banho e que ele me esperasse. Tomei um belo banho, vesti meu espartilho preto e voltei ao quarto. Ele arregalou os olhos de susto e desejo. Veio ao meu encontro, pegou-me pela cintura e me puxou de encontro ao peito. Puxou meu cabelo à altura da nuca e sussurrou no meu ouvido: Eu gosto tanto de você...Pronto, isso bastou para eu esquecer vinganças, salto agulha e piranhas. Amoleci em seus braços e acordei sozinha. Quando é que eu vou aprender? 

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