O que de mais triste se ouvia na pequena cidade era o sino da igreja a anunciar os mortos. A tristeza tomava conta da casa, do quintal, assomava à soleira da porta. Entranhava-se pelas unhas, roupas, suores, cabelos e anuviava os olhos. Eu olhava o muro da casa descascado. Meus olhos de menina viam o belo onde havia cascas de feridas. Subia feito equilibrista. Olhava o enterro de cima da casa. As meninas mortas tinham minha idade. Morreram abraçadas. Foram enterradas juntas, lado a lado, pois que amizade não tem fim com a passagem. Brincavam juntas pelo cemitério quando todos dormiam. Colhiam flores como quem colhe algodão mocó, branquinho, branquinho. Riam-se tanto e corriam entre os mortos de cá, visto que morrer depende de que lado se está. Eram meninas libertas do corpo: podiam voar. E voavam. Eu vi. Voavam ao som da canção que as perpetuou em memória: “se ouvires a voz do vento, chamando sem cessar...”
CERI TOH
Ceri toh quer dizer Seridó na língua indígena. O historiador Câmara Cascudo escreveu que Ceri toh significa sem folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou cobertura vegetal, segundo Coriolano de Medeiros...Também ouvi de meu pai que significa paisagem desnuda e gosto mais dessa expressão.
Segundo os judeus significa "refúgio Dele", originada da palavra hebraica she ´eritó, assemelhando-se muito com a palavra Seridó.
De qualquer forma, esta palavra está impregnada em mim desde tempos imemoriais...
Segundo os judeus significa "refúgio Dele", originada da palavra hebraica she ´eritó, assemelhando-se muito com a palavra Seridó.
De qualquer forma, esta palavra está impregnada em mim desde tempos imemoriais...
Excelente texto. As badaladas do sino para aquelas duas crianças, até hoje ecoam na mente de muita gente na nossa pequena, pacata, mas maravilhosa cidade.
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