CERI TOH

Ceri toh quer dizer Seridó na língua indígena. O historiador Câmara Cascudo escreveu que Ceri toh significa sem folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou cobertura vegetal, segundo Coriolano de Medeiros...Também ouvi de meu pai que significa paisagem desnuda e gosto mais dessa expressão.
Segundo os judeus significa "refúgio Dele", originada da palavra hebraica she ´eritó, assemelhando-se muito com a palavra Seridó.
De qualquer forma, esta palavra está impregnada em mim desde tempos imemoriais...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010



A lua está gritando no céu. Você não sabe, mas é meu grito. Pedi que gritasse por mim. Perdi minha doçura pelo caminho e tenho que me acostumar com esse meu novo jeito de ser. Ao longo da estrada fui carregando uma palavra aqui, um punhal no olho, uma pedra na mão e não saberia chegar ao território dos candangos sem minhas armadilhas. Caminhar por esses atalhos espinhentos não é tão fácil. Até minha feminilidade ficou espetada num desses pés de xique-xique que encontrei lá na curva do caminho, onde o diabo perdeu as botas. Pois foi lá que perdi minha doçura e nem seu anjo, aquele, das palavras mais doces, foi capaz de achá-la para mim. Já derramei tantas lágrimas que não sou mais capaz de chorar. Dia desses, um anjo diferente, com uma armadura de couro e tez bronzeada, me disse assim: Minha menina, você esqueceu o mais importante. Você desaprendeu a amar o caminho. Olhei bem no olho dele e respondi: Meu anjo moreno, onde perdeu suas asas? Por acaso essa armadura de couro protege o seu coração? O meu foi esquartejado antes que eu começasse a andar por essas terras. Como amar o caminho sem ter coração? É o mesmo que querer voar sem asas... O anjo não disse mais nada, mas tornou-se meu companheiro de viagem e procura por suas penas e seus pecados mais doces. Não fala muito, mas mantém uma serenidade que me faz dormir de vez em quando...
A lua continua gritante no céu desse quarto que pressinto ser meu (meu?), mas temos que tomar algumas decisões e não tem sido fácil. Para os homens (sejam eles anjos ou demônios) tudo é mais fácil. Mas para nós, mulheres (sempre guerreiras) tudo é lume de faca, de punhal sem corte. De uma maneira ou de outra, saímos mais do que feridas...

Um comentário:

  1. Interessante a coincidência de beiras de abismo - neste post e no post mais recente do outro blog. Num poesia, no outro prosa. Em ambos, a mesma sensibilidade. Parabéns, Jeanne.

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