CERI TOH

Ceri toh quer dizer Seridó na língua indígena. O historiador Câmara Cascudo escreveu que Ceri toh significa sem folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou cobertura vegetal, segundo Coriolano de Medeiros...Também ouvi de meu pai que significa paisagem desnuda e gosto mais dessa expressão.
Segundo os judeus significa "refúgio Dele", originada da palavra hebraica she ´eritó, assemelhando-se muito com a palavra Seridó.
De qualquer forma, esta palavra está impregnada em mim desde tempos imemoriais...

segunda-feira, 9 de agosto de 2010






Pode ser que não haja uma tarde azul para mim nesse fim do dia. Pode ser que eu esteja vendo coisas e a cor amarela da flor do algodoeiro que há de frente a minha casa seja um delírio de quem passou a noite em claro. Mas elas, as flores, me incriminam. Olham-me como se dissessem: sabemos. E de repente, me senti completamente desnuda. Acuada em todas as direções. Então me descobri também sozinha. Numa tentativa de fuga, fechei a janela que dá para a rua. É impossível conversar com as flores. As amarelas. Fosse outra cor que me permitisse atalhos e descaminhos, seria até mais fácil, mas não a cor do sol nascente. Elas, as flores, sabem o que não sei. Sabem que sequer almejo saber. Elas sentem-me. Gritei quase horrorizada: mas eu também sinto. E me senti muito velha. Como se o tempo corresse, corresse e me desobrigasse. E a vida caísse sobre mim com seus cabelos brancos, as pernas bambas e os sulcos na carne. Porque viver ultrapassa meu entendimento. Viver me exige constantemente uma escolha. Como se eu pudesse fugir da minha casa que é a dor e nesse mesmo recinto me fosse arrancada a alma. Então meu escuro cresce dentro do meu quarto. Porque assim, desnuda de vida não posso ir. Não posso caminhar sem minhas máscaras, meus véus, minhas armadilhas. Na minha incompreensão me mistifico. A minha intuição me guia nessa estrada que é tudo, menos repouso. Não sei onde colocar meu coração nessa bagagem. Termino por deixá-lo jogado por aí, intuitivamente. Pode não ser o melhor a fazer. Pode até parecer loucura, sombra, surto. O que fazer para viver sem sofrer perdas e danos? Viver à mercê do imprevisível talvez me baste. Só não sei o que fazer com as flores amarelas, talvez as arranque e as leve pra você. Em tardes assim, em que a brisa do Atlântico beija de mansinho meu rosto e brinca levemente com meu vestido de flores azuis, em tardes assim, eu aproveito a solidão para me espantar. E é com os olhos cheios de espanto que me atrevo a abrir a janela que dá para a rua e a cor amarela me fere novamente os olhos. Só que agora, eu já consigo amá-la.

2 comentários:

  1. Muito bem escrito, lírico, rico e fino!
    Parabéns!!!!!
    Adorei tudo, inclusive a etimologia da palavra Seidó.

    Beijos e sigo-te.
    Maria Maria

    www.bebiaguadechocalho.blogspot.com

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  2. Querida! Fiquei pensando que também não sei em que lugar da bagagem levar meu coração...
    Isso me pareceu muito significativo!
    Além de tudo me sinto muito curiosa sobre a sua terra...como será seridó?

    Me diga exatamente onde fica?

    Beijo, Liebe

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