CERI TOH

Ceri toh quer dizer Seridó na língua indígena. O historiador Câmara Cascudo escreveu que Ceri toh significa sem folhagem, pouca folhagem, pouca sombra ou cobertura vegetal, segundo Coriolano de Medeiros...Também ouvi de meu pai que significa paisagem desnuda e gosto mais dessa expressão.
Segundo os judeus significa "refúgio Dele", originada da palavra hebraica she ´eritó, assemelhando-se muito com a palavra Seridó.
De qualquer forma, esta palavra está impregnada em mim desde tempos imemoriais...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

REENCONTRO





Marquei o encontro para às três da tarde. Não gosto de esperas, não sei o que fazer com as mãos deixadas sobre as coxas em total abandono. Minhas mãos me denunciam e eu não gosto de esperas. Sentei-me no banquinho da praça e aguardei  que ele aparecesse na esquina da rua com as mãos cheias de papel. Estou escrevendo um novo romance – confabulou no telefone – gostaria de te mostrar. Penso que este homem é louco. Enquanto vejo-o se aproximar, lembro do dia em que o conheci. Cara de escritorzinho barato. Desses que fumam o dia inteiro e bebem coca-cola sem gás. Dono de um sorriso mágico e de um beijo fantástico. Preciso experimentar – pensei. Dizem que escritores tem um quê a mais. Uma palavra decorada do livro de Clarice para dizer naquela hora em que fica difícil respirar. A frase queima e arrepia a pele. Ele também leu muitos livros sobre o amor, mais ainda sobre sexo. Deve saber das coisas esse menino com cara de homem.

Chegou e jogou os papéis no meu colo. Levei um susto, mas ele sempre foi assim- estabanado com as coisas. Nunca com o corpo. Este, ele conhece milímetro por milímetro. E o que fazer com os milímetros. Dono de uma voz rouca quando excitado. Hálito de menta. Cigarro de menta. Lembro do cheiro da pequena biblioteca onde nos beijamos a primeira vez.  Cansei de esperar que ele me beijasse. Enquanto me mostrava sua coleção de revistas, eu fui olhando hipnoticamente para sua boca e já nem ouvia o que ele falava, minha imaginação ia à mil imaginando o que aquela boca poderia fazer calada. Beijei-o demoradamente e fui empurrando-o contra a estante de livros. Colei em seu corpo. Senti seu desejo. Então escritores também desejam ardentemente na vida real, que bom. O beijo demorou demais e me desvencilhei daquela boca com uma desculpa qualquer.

O texto é realmente bom – falei pra quebrar o silêncio. Pedi um café, ele um suco. (Um suco, oh Deus). Perguntei se eu estava no romance, ele corou. Sim, eu era a prostituta do livro. Logo uma prostituta? Corei pensando nas vezes em que namoramos em locais públicos. Sim, ele era um louco e nos amávamos. Nos bares, nas esquinas, nos becos, nos banheiros públicos. Éramos loucos, jovens e loucos. Amávamos as noites, os dias, o apartamento. Cheiro de amor em tudo, até nos livros. Líamos juntos e terminávamos na cama. No banheiro. No sofá da sala. A barba grisalha mostra que envelheceu um pouco. Ficou mais bonito. Sua perna roça de leve a minha por baixo da mesa. Olho para ele e sorrio. Ele baixa os olhos. Sempre me encantou esse baixar de olhos. Estamos velhos para isso, você não acha? Você continua com os olhos de Capitu – ele me diz sorrindo. Conversamos sobre a vida, sobre as banalidades depois que a gente se separou naquela noite fria no lançamento do seu primeiro livro de poemas. Ele me apresentou um amigo. Eu lhe apresentei uma amiga. Saí cedo, ele tarde. O amigo me deixou em casa. Minha amiga terminou na casa dele. Na cama dele. Não nos falamos mais durante anos. Não falamos sobre isso. Meu café esfria na xícara. O suco esquenta. Eu começo a olhar hipnoticamente aquela boca que fala, fala e eu nem escuto mais o que diz. E como eu não sei esperar...

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